POESIA BRASILEIRA: Ferramentas do Professor de Literatura
Trabalho elaborado à obtenção de nota na disciplina APS: Ferramentas do Professor de Literatura, ministrado pela Prof.ª: Sônia Maria Oliveira e Silva. UNIP-MANAUS.
INTRODUÇÃO
O objetivo principal deste relatório consiste em relatar as atividades
realizadas a partir do livro didático. Assim, é necessário proporcionar aos
alunos um enfrentamento do livro didático de Literatura, especialmente dos
tópicos que tratam da poesia brasileira. Neste sentido, selecionamos um
capítulo de um livro didático que trabalhou, ao menos, um poema da Literatura
Brasileira. Posteriormente preparamos
uma aula de aproximadamente 15 minutos sobre o tema, cujo público-alvo seria
alunos do Ensino Médio. Todavia, em meio a pandemia da Covid-19 que
assola o Amazonas e que levou o Governo do Estado a decretar o isolamento
social como medida para contenção dos casos de contaminação, não foi possível expor
nas escolas a Atividade Prática Supervisionada, conforme consta na proposta do
Projeto. Para cumprir esse requisito, ministramos aos colegas de sala de aula do
Curso de Letras - Licenciatura em Língua Portuguesa e Língua Inglesa, do 4º/5º
período da UNIP – Campus Manaus, a exposição do tema escolhido por meio da
Plataforma Zoom.
Elaborar este
enfrentamento perpassou por algumas fases. A primeira corresponde a compreensão
acerca do Pré-Modernismo e Augusto dos Anjos. A segunda refere-se ao embasamento teórico dos aspectos didático-pedagógicos dos
documentos oficiais: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCN),
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e Base Nacional Curricular Comum (BNCC),
disponíveis no Portal do Mec.
A terceira fase surge em meio a debates do grupo quanto as formas
de verificar se os objetivos desse embasamento teórico propostos pela BNCC, PCN
e LDB quanto ao despertar da criticidade dos alunos são cumpridos na prática. Para
isso, entrevistamos duas estudantes cujo objetivo é identificar este
enfrentamento: uma estudante pós Ensino Médio, a outra, discente do 2º ano do
Ensino Médio do Centro de Educação Sesc José Roberto.
Em suma, nosso
relatório final tenta compreender o objetivo da APS quanto ao desenvolvimento
do trabalho: a) o que fizemos; b) de que forma as atividades propostas
contribuíram para nossa formação; e c) se os objetivos iniciais foram
alcançados.
1. AS REUNIÕES
Foram realizadas duas reuniões via Plataforma Zoom em que todas as integrantes do grupo participaram. A reunião do dia 20/04/21 ocorreu às 19h30 onde a temática Enfrentamento do Livro Didático foi discutido. Primeiramente, buscou-se encontrar um livro didático que atendesse nossos objetivos, assim propomos falar com a adolescente aqui identificada com as iniciais F.C, e que cursa o segundo ano do Ensino Médio do Centro de Educação Sesc José Trados, escola particular do ensino de Manaus, para verificarmos quais seriam os autores poéticos que trabalham a poesia no Ensino Médio.
Além disso, quanto ao conceito de
“enfrentamento” buscamos compreender melhor em sua essência este termo a partir
de tais perguntas: a) como poderíamos encontrá-lo no assunto? b) De que maneira
iremos contextualizar suas ideias? c) Quais são os problemas que impedem o
aluno de despertar o gosto pela leitura? d) A forma como este assunto poesia
brasileira é passada em sala de aula? e) Concordamos ou não com essa
metodologia? Concluímos que o enfrentamento é o questionar metodológico aplicado
na sala de aula e principalmente o despertar da criticidade do aluno.
No dia 21/04/2021 todas as integrantes
receberam o uma cópia do capítulo via WhatsApp para estudar e propor
considerações. Por este viés, tentamos responder ao
objetivo da APS: “5. Produzir um relatório final sobre o desenvolvimento do
trabalho: o que fizeram, de que forma as atividades propostas contribuíram para
sua formação e se os objetivos iniciais foram alcançados”.
No dia seguinte, realizamos a segunda reunião
por intermédio da plataforma Zoom. Com o livro didático em mãos, no capítulo:
Pré-modernismo encontramos a poesia de Augusto dos Anjos, a única ressaltada,
pois outros assuntos discorriam sobre a prosa. Para isso, nosso trabalho foi
dividido em etapas.
Uma integrante da equipe ficou responsável
pelo contexto histórico do Pré-Modernismo, pois o enfrentamento inicia em
situar historicamente os acontecimentos e fatos ocorridos no período de 1902 a
1922, neste sentido, isso implica no despertar no primeiro momento no aluno
sobre a realidade passada. A segunda, responsabilizou-se
pela biografia de Augusto Dos Anjos, o poeta de diversas faces. Sua trajetória
consiste em ampliar o conhecimento da arte poética nos alunos de forma livre. A
terceira integrante analisou profundamente sua poesia Psicologia de um
vencido. A quarta integrante buscou compreender a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) para ressaltar seus parâmetros da literatura: poesia direcionado ao
Ensino Médio. A quinta integrante pesquisou sobre os Parâmetros Nacionais
Curriculares (PCN) para destacar a base legal de como a poesia deve ser
trabalhada em sala de aula, bem como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a qual
se aplica no mesmo sentido. A sexta participante elaborou os slides e relatou
sua experiência no Ensino Médio em 2017, ano de sua formação, em que poderíamos
consolidar na prática esse enfrentamento didático.
Complementando a questão do enfrentamento, aplicamos
uma entrevista com a aluna F.C de 15 anos, discente do Centro de Educação Sesc
José Trados, localizado no bairro Planalto da cidade de Manaus. Assim, após a
realização de todas estas atividades, criamos um grupo online: APS:
Literatura Poesia, em que trocávamos informações, bem como entregávamos materiais
e resumos solicitados.
Enfim, nossas
discussões nos proporcionaram outros olhares para além de uma poesia. Percebemos
que não consiste apenas em texto que pode ou não rimar. Despertou-nos olhares sociais,
políticos, econômicos e culturais de uma determinada época, em que conflitos
eram gritantes em grande parte de nosso Brasil. Euclides da Cunha, Lima
Barreto, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos são os mensageiros desse período
conhecido como pré-modernismo. Portanto iremos a partir desta descrição
ressaltar mais intrinsicamente as partes que compõe o livro didático analisado.
2. A IMPORTANCIA DO LIVRO DIDÁTICO
Ao
utilizar livros didáticos como recurso em sala de aula é necessário conhecer a
abordagem e os métodos utilizados para trabalhar determinados conceitos, bem
como, a necessidade de se estender o conhecimento de como é feita essa
abordagem com fatos históricos (REIS E SILVA, 2017).
Os
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCN), em meados de
1997, já mencionavam a importância da utilização de livro didático dentro das
escolas brasileiras. Ele é um material de forte influência na prática de ensino
brasileira. É preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à
coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos
educacionais propostos.
O
livro didático, recurso destinado exclusivamente ao uso escolar, representa
para muitos professores o grande aliado das aulas, o ponto de partida e de
chegada da aprendizagem. Os conteúdos partem desse recurso e os exercícios
propostos fazem o fechamento, quando não são seguidas outras atividades
sugeridas pelo livro. As discussões em torno de sua utilização trouxeram
aprimoramentos pedagógicos (BENDER, 2007).
Segundo
o Guia de Livros Didáticos PNLD 2008, do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, o livro didático
... é um material
de forte influência na prática de ensino brasileira. É preciso que os
professores estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições
que apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. Além disso, é
importante considerar que o livro didático não deve ser o único material a ser
utilizado, pois a variedade de fontes de informação é que contribuirá para o
aluno ter uma visão ampla do conhecimento. (PNLD, 2007, p. 67)
Ao
analisar livros didáticos é possível perceber a existência de falhas na sua
composição, às vezes na forma de apresentação do conteúdo, nas atividades
propostas, no desenvolvimento dos conceitos no decorrer das páginas, ou ainda
de inadequação à realidade local, às práticas sociais do grupo escolar em
questão (ROSA ET AL. 2013). Por esse motivo destaca-se a importância de
utilizar diversos livros e variados recursos pedagógicos, para oferecer ao
aluno uma vasta fonte de informações.
3. Pré-Modernismo
O
livro didático estudado foi: Sistema Farias Brito de Ensino (SFB) – 2º
ano do Ensino Médio. Livro 1. Vol.1. São Paulo: Editora Moderna, 2018 (p.
100-126). Nosso propósito consiste em proporcionar
aos alunos um enfrentamento
do livro didático de Literatura. Por este viés, buscamos evidenciar o
conteúdo de Pré-modernismo, como figura central e situar neste contexto a
poesia de Augusto dos Anjos. Ressaltar também o olhar da BNCC, PCN e LDB como
norteadores deste ensino, levando em consideração os textos, as figuras, o modo
de avaliação do livro.
O
SFB (2018), livro didático, apresenta no capítulo Pré-modernismo nove
objetivos. O primeiro relata: “1.
Compreender por que o Pré-Modernismo não é considerado uma estética literária.?”.
O entendimento deste objetivo perpassa primeiramente pela apresentação dos
fatos históricos que discorrem no período de 1902 a 1922, ocorridos no Brasil
republicano,
Os primeiros anos
da República são agitados no Brasil. O Nordeste é flagelado pela seca e
sacudido pela Guerra de Canudos. No Norte a borracha traz riquezas e prosperidade
para uma região isolada e desconhecida. A riqueza de São Paulo é proveniente do
café, o ‘ouro negro’. Imigrantes começam a chegar, com costumes e culturas
diferentes. (SFB, p.101).
Neste
sentido, o livro expõe a seguinte preocupação: Como dar voz a diversidade de um
país cada vez mais complexo? “O desafio da literatura será representar esses
contrastes”, pois o ‘projeto literário do pré-modernismo’ não apresenta uma
única estética. Agrupa vários escritores, seus desejos de acordo com o SFB era
“revelar o verdadeiro Brasil para os brasileiros ... e usar a literatura como
meio para torná-lo mais conhecido” (p.104).
Revelar
o Brasil de acordo com o SFB (2018) era necessário direcionar o olhar das
classes mais privilegiadas aos personagens inexistentes na literatura como o
pequeno funcionário público, o caboclo, os imigrantes, os quais foram levados a
categoria de protagonistas dos romances do período. Já os sertanejos receberam atenção
dos romances regionalistas de José de Alencar e Franklin Távora, todavia, o
retrato deste objeto era mais distanciado, bem diferente da idealização
característica dos textos românticos.
O
enfrentamento deste livro didático está de acordo com o Parâmetros Nacionais
Curriculares (PCN) para o Ensino Médio, como podemos identificar no item aprender
a ser, uma das diretrizes gerais e orientadoras da proposta curricular
apontadas pela UNESCO como eixo estrutural da educação na sociedade
contemporânea:
Um eixo histórico-cultural dimensiona o valor
histórico e social dos conhecimentos, tendo em vista o contexto da sociedade em
constante mudança e submetendo o currículo a uma verdadeira prova de validade e
de relevância social. Um eixo epistemológico reconstrói os procedimentos
envolvidos nos processos de conhecimento, assegurando a eficácia desses
processos e a abertura para novos conhecimentos. (PCN, 2000, p.16)
Um
fato que chamou atenção no livro didático foi sua forma de não referenciar a
Europa e comparar o que ocorria também neste continente, pois seus ideais
influenciaram nossos autores brasileiros. Complementando esta acepção do livro didático,
nossa equipe na apresentação do dia 27 deste mês, elaborou um estudo mais
sistematizado sobre o Pré-Modernismo.
Segundo
Souza (2021),
O pré-modernismo não é considerado um
estilo de época, pois apresenta uma multiplicidade de temáticas. É entendido
como um período literário brasileiro que faz a transição
entre o simbolismo e o modernismo. Por isso, é possível encontrar, nas
obras dessa época, características de estilos passados, como: parnasianismo,
realismo, naturalismo e simbolismo. Assim, estão inseridos nessa fase os livros
publicados entre 1902 e 1922.
No
contexto histórico da Europa, ocorriam tensões políticas e o movimento de
vanguarda. Nessa época surgiram muitas inovações tecnológicas, como a
Psicanálise pesquisada por Sigmund Freud (1856-1939), o qual colocou em foco o
inconsciente, esse lugar onde a lógica e a moralidade não comandam. Para ele, o
consciente é o espaço da repressão, e o inconsciente, da liberdade de ação,
como iremos encontrar na poesia de Augusto dos Anjos.
A
teoria da relatividade, de Albert Einstein (1879-1955) também contribuiu para contrapor
as ideias de Isaac Newton (1643-1727), ao afirmar que o tempo não é absoluto
como defendia, mas relativo, pois depende do ponto de vista do observador. Essa
quebra radical com a física clássica assinala uma quebra de paradigma, coloca
em xeque as certezas do passado e aprimora ideias de novos conhecimentos.
Nesse
interim, alguns artistas questionaram nas artes, teorias já cristalizadas. Assim,
o SFB propõe este questionar ao analisar os seguintes objetivos:
3. Caracterizar a
obra de Euclides da Cunha; 4. Explicar como, em ‘Os sertões’, literatura e
jornalismo se aproximam e identificar traços naturalistas presentes nessa obra;
5. Reconhecer como a interação entre acontecimentos históricos e personagens
ficcionistas define a obra de Lima Barreto; 6. Identificar o tratamento dado
por Monteiro Lobato às cidades do interior paulista.; 7. Explicar por que o Jeca Tatu se tornou-se
personagem ‘mortal’ da literatura brasileira. (p.100)
Sua
abordagem transversal, ressalta mazelas sociais de norte ao sudeste brasileiro.
O grande ápice deste momento foi a realidade ser retratada em tempo real, em
decorrência da importância do telegrafo e fotos que eram enviados dos locais. A
tecnologia incute nas pessoas a ruptura entre ficção e realidade, assim, é
necessário que a literatura acompanhe esse desenvolvimento tecnológico. “Como consequência
natural da maior aproximação entre literatura e realidade, a linguagem
utilizada nos textos modifica-se, torna-se mais direta, mas objetiva, mais
próxima da linguagem característica do texto jornalístico” (p.105).
Escritores
e leitores aderem a mudança de olhar o Brasil republicano com conflitos e
contrastes. Suas críticas incisivas podem ser observadas no diálogo abaixo:
Com a República,
os principais centros políticos passaram por uma transformação do espaço urbano
que desencadeou um processo de ‘europeização’ do país. Cidades como Rio de
Janeiro, São Paulo, Belém e Manaus foram as mais afetadas pelo que ficou
conhecido, na época como bota-abaixo. (...) Uma consequência imediata da
reurbanização foram ... o deslocamento de milhares de famílias pobres das áreas
centrais ... para os cortiços. (...) escravos libertos viviam em estado de
quase completo abandono” (p. 102)
Observa-se
neste patamar o enfrentamento proposto pelo livro didático, olhares
multifacetados que abrangem o Pré-Modernismo são construídos na visão de
Euclides da Cunha quando escreve sobre a Guerra de Canudos escrito em: ‘Os
sertões’, ocorrido no interior da Bahia nos meados de 1896 e 1897. Sua obra ressalta
as mazelas e dificuldades sociais. Todavia, o estudante será impulsionado a
perceber que a Guerra de Canudos apresenta dois olhares para o mesmo conflito,
um de Olavo Bilac, outro de Euclides da Cunha:
Euclides da Cunha, no final de Os Sertões,
registrava:
[…] Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a
história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, […]
caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que
todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança,
na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados. CUNHA, Euclides da. Os
sertões. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1995.v.2, p. 513.
(Fragmento)
Já Olavo Bilac, escrevendo sobre o mesmo episódio,
comemorava:
Enfim, arrasada a cidadela maldita! Enfim, dominado
o antro negro, cavado no centro do adusto sertão, onde o Profeta das longas
barbas sujas concentrava sua força diabólica, feita de fé e de patifaria,
alimentada pela superstição e pela rapinagem! …]
A partir destes olhares, o SFB (2018) propões questionamentos que
permitem o aluno despertar sua criticidade com as seguintes perguntas: 1. Que visão cada trecho manifesta sobre o
episódio? 2. Transcreva no caderno as
expressões utilizadas por Olavo Bilac em seu texto para caracterizar a vila de
Canudos e Antônio Conselheiro. Que juízo de valor está associado a elas? Explique.
3. O que pode explicar duas visões tão diferentes a respeito de um mesmo
acontecimento histórico? 4. Os dois textos citados circularam em jornais da
época. Que repercussão a apresentação de duas visões tão distintas pode ter
tido sobre os leitores da época? Os dois textos podem ter contribuído para a
polarização de opiniões da população a respeito do conflito? Explique.
Seguindo
a mesma linha de pensamento, o SFB destaca Lima Barreto, o qual descreve a
“vida nos subúrbios cariocas”. Por ser mulato enfrenta o preconceito da classe
elitizada, conseguindo posteriormente relativo sucesso como jornalista. Sua crítica
é vista em Clara dos Anjos e Recordações do Escrivão Isaias Caminha. Já
Monteiro Lobato, escrevia sobre a região do Vale do Paraíba, conhecido como
Oeste Paulista. Ele denunciava problemas do interior paulista e por isso
recebeu inúmeras críticas ao escrever os ‘Urupês” que significa “uma espécie de
fungo parasita” descreve a figura de Jeca Tatu, um personagem preguiçoso e
afirma que “a mistura de raças gera um tipo fraco, preguiçoso e passivo” (SFB,
p.116). Por este motivo foi considerado racista.
Observa-se
nestes estudos uma proposta ao despertar da competência dos alunos, o que
corrobora a visão do PCN (2000), onde consta:
De que
competências se está falando? Da capacidade de abstração, do desenvolvimento do
pensamento sistêmico, ao contrário da compreensão parcial e fragmentada dos
fenômenos, da criatividade, da curiosidade, da capacidade de pensar múltiplas
alternativas para a solução de um problema, ou seja, do desenvolvimento do
pensamento divergente, da capacidade de trabalhar em equipe, da disposição para
procurar e aceitar críticas, da disposição para o risco, do desenvolvimento do
pensamento crítico, do saber comunicar-se, da capacidade de buscar
conhecimento. Estas são competências que devem estar presentes na esfera
social, cultural, nas atividades políticas e sociais como um todo, e que são
condições para o exercício da cidadania num contexto democrático (PCN, 2000, p.
11)
A
visão acerca da capacidade de abstração citada acima, agora será destacada
também na poesia de Augusto dos Anjos, ‘poeta de muitas faces’, cujo oitavo
objetivo do SFB é: Descrever as características essenciais da poesia de Augusto
dos Anjos e analisar como sua obra associa a crença na ciência e indagações
filosóficas será nosso foco.
3.1 Biografia de Augusto dos Anjos
O
SFB (2018) destaca de forma resumida a biografia de Augusto dos Anjos, por isso
destacaremos um estudo paralelo dele, o qual foi apresentado no seminário do
dia 27/04 como foi referendado anteriormente.
Ramos
e Frazão (2021), resumem que Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nasceu em
20 de abril de 1884, no Engenho Pau d’Arco, Vila do Espírito Santo (Paraíba).
Filho de antigos senhores de engenho, o poeta vivenciou, desde a infância, a
lenta decadência de sua família. O pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, bacharel
em Direito, ensinou-lhe as primeiras letras. Sua mãe se chamava Córdula de
Carvalho Rodrigues dos Anjos.
Desde
cedo interessou-se pela literatura. Aos sete anos escreveu o seu primeiro
poema. Ingressou no Liceu paraibano para cursar o ensino secundário. Em 1903
matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife. Nesse período, começou a
publicar alguns poemas no jornal paraibano “O Comércio”. Os versos chamaram a
atenção dos leitores, principalmente de maneira negativo. Assim, foi
considerado histérico, desequilibrado, neurastênico, qualidades que lhe seriam
atribuídas ao longo da vida. Na Paraíba, foi apelidado ‘Doutor da tristeza.’
Formado
em 1907, Augusto dos Anjos nunca exerceu a profissão de advogado ou magistrado.
Foi de Recife para a capital paraibana, onde passou a lecionar Língua
Portuguesa e Literatura Brasileira. Em 1910 casou-se com Ester Fialho, com quem
teve três filhos - o primeiro deles morreu ainda recém-nascido.
Desentendimentos
com o governador da Paraíba o levaram a se transferir para o Rio de Janeiro.
Lá, o poeta passou por dificuldades financeira, pois passou quase um ano
desempregado, as coisas melhoraram quando passou a lecionar aula de Literatura
em diversos cursinhos. Em 1911 foi nomeado Professor de Geografia, no Colégio
Pedro II. Durante esse período, publica vários poemas em jornais e periódicos.
O
Livro didático SFB (2018) enfatiza que em 1912 publica o seu livro, EU, com a
ajuda financeira de seu irmão. Porém, não obteve nenhum reconhecimento do
público leitor, exceto o repúdio da crítica de seu tempo, apegada ao lirismo do
parnasianismo.
Em
junho de 1914 mudou-se para Leopoldina (MG), assumindo o cargo de diretor de um
grupo escolar na cidade, mas uma pneumonia interrompeu a trajetória do poeta,
que faleceu com apenas 30 anos, em 12 de novembro de 1914.
3.2 Características poéticas de Augusto dos Anjos
O
livro didático SFB refere-se a Augusto dos Anjos como ‘um poeta de muitas
faces’, ou seja, sua poesia apresenta um caráter ‘sombrio e enigmático’. Sua influência
perpassa pelo Simbolismo ao trabalhar o ‘gosto pelas imagens fortes e a
construção formal’, do Naturalismo adquiriu os termos científicos e do
Parnasianismo ressalta os sonetos.
Segundo
Frazão (2021) em: “Augusto dos Anjos – Um poeta brasileiro” sua originalidade
advém do uso de um vocabulário adquirido das ciências biológicas e manejadas
habilmente pelo poeta para falar de seus temas mais frequentes: “- a morte, o
nada, a decomposição da matéria.” Suas poesias trazem marcantes sentimentos de
pessimismo e desânimo, além de inclinação para a morte e fortes críticas a
sociedade de sua época.
Ramos
(2021), destaca que no livro (EU) de Augusto dos Anjos, mesclam-se por termos
filosóficos embebidos de pessimismo e vocabulários científicos, que raramente
seriam encontrados em textos poéticos. Além disso, escreveu uma poesia
violenta, pautada por uma angústia cósmica, por uma eternal lembrança sepulcral,
uma intensa antítese em seus versos, como o poema “Versos Íntimos”. Tais
expressões chocaram a sociedade daquela época, consequentemente, não poderia se
encaixar nas escolas literárias e sim em uma “coisa pré-modernista.”
Frazão
(2021) analisa a poesia de Augusto dos Anjos como:
Pessimista,
cósmica, paradoxal, mórbida e angustiante, a poesia de Augusto dos Anjos é
feita de um vocabulário científico misturado com uma tristeza profunda. O
questionamento existencial encontra a ciência e a Teoria da Evolução de Darwin
em uma combinação insólita, jamais vista antes nos termos da decomposição da
matéria, da carne putrefara que encerra o tempo do vivente. (Frazão, 2021. p.25)
Frazão
(2021) externa que a própria construção dos versos de Augusto dos Anjos exprime
essa luta: tudo é dito de maneira dura, cheia de excesso e hipérboles, em
métrica rígida. O amor, o prazer, a volúpia não são senão uma luta das células
como é toda a existência humana, destinada a tornar-se cadáver e alimentar os
vermes decompositores.
Ainda
para Frazao (2021), a estética da podridão, da agonia, da deformação, trata-se
de uma, mistura filosófica e biológica que eclodem em um grito violento em
busca das razões da existência humana influenciada por Arthur Schopenhauer,
cuja teoria
filosófica percebia uma perene impossibilidade de felicidade, já que a vida
humana se resume a um pendule entre o sofrimento e o tédio; a poesia de Augusto
dos Anjos reverbera uma ‘’eterna mágoa’’, uma dor existencial perene a que
estão implacavelmente submissas a todos os seres. (FRAZÃO, 2021, p. 29)
“Versos Íntimo” talvez seja o mais conhecido dos poemas dele, e encontra-se ressaltado no livro SFB (2018):
Vês?!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
da tua última quimera.
Somente
a ingratidão- essa pantera-
Foi
tua companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O
Homem, que, nesta terra miserável
Mora
ente feras, sente inevitável
Necessidade
de tamanha ser fera.
Toma
um fósforo. Acende o teu cigarro!
O
beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A
mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se
alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te apedreja.
Escarra
nessa boca que te beija!
Este
verso descreve segundo o livro didático a crença na quimera - fantasia, sonho,
ilusão – resume assim, a causa da desilusão humana. O eu lírico dirige-se aos
leitores e afirma a impossibilidade de uma vida feliz, pois com a morte dos
sonhos, as pessoas estão condenadas a mais irremediável solidão. Os gestos de
solidariedade devem ser vistos como sinal de desilusão futura. É esse o contexto
que explica o terrível conselho final: “escarra nessa boca que te beija.
Para
Frazão (2021) ‘Versos Íntimos’ é considerado um soneto decassílabo, com esquema
de rima ABBA -BAAB-CCD-EED, exprime a revolta diante da vivência atroz da
máxima hobbesiana “o homem é o lobo do homem”. Nessa “terra miserável”, “entre
feras”, não florescem os afetos é um mudo de ingratidão, onde o beijo pede o
escarro, onde aquele que ontem que afagava, hoje apedreja. A marca da angústia
e do pessimismo são marcantes, em que as divagações metafísicas são constantes,
pois é síntese de uma angústia existencial.
Outro
ponto relatado no SFB (2018), foi “Linguagem: Ciência e símbolos”, em
que Augusto dos Anjos recorre à ciência para descrever que a origem das
angústias morais se encontra na humanidade. Ele recorre a Ernest Heckel, um
estudioso das teorias da natureza biológica e interpretações filosóficas sobre
a alma e a existência humana. Então surge a poesia Psicologia de um vencido,
que será analisada a seguir.
3.3. Análise do poema de Augusto dos Anjos, Psicologia de um vencido
1ª
estrofe: "Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e
rutilância,
Sofro, desde a
epigêneses da infância,
A influência má dos
signos do zodíaco."
O personagem retratado no poema é o
próprio eu lírico. No primeiro verso, Augusto dos Anjos faz
referência ao carbono e ao amoníaco, sendo os dois compostos da atmosfera
primitiva que pode ser representada pelo vulcão, que tem em sua composição CO2,
NH3 e H20. O carbono também é abundante no corpo humano, o que demonstra a
intenção do autor em dizer que é filho da matéria simples. No segundo verso
o autor utiliza a palavra “monstro” no sentido de depreciação a si mesmo, uma
característica comum em seus poemas. No terceiro verso há o sofrimento gradual,
e no verso seguinte o seu sofrimento toma proporções universais.
2ª estrofe: "Profundissimamente
hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco."
Nessa
estrofe o autor descreve o ambiente em que ele se encontra, sendo esse um lugar
de dor e sofrimento que lhe causa ânsia e repugnância. Mais uma vez é usada a
fisiologia, uma das marcas registradas de Augusto dos Anjos.
3ª estrofe: "Já
o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara
guerra,"
O verme pode ser considerado outro
“personagem” do poema já que
ele representa um certo tipo de inimigo do eu lírico quando ele “declara guerra
à vida”, sendo essa sua ação.
4ª estrofe: "Anda
a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra."
O
verme espreita os olhos (permite a visão do mundo) do eu lírico e deixa apenas
o cabelo que é constituído de queratina, que é resistente ao tempo e que não
pode ser decomposta pelos vermes. A frialdade inorgânica" é o 'fim'
do eu lírico que inicialmente era filho do carbono (representação da vida) e
que agora está em um ambiente inorgânico (oposto da vida). A parte inorgânica
da terra pode ser considerada como um solo firmado por desgaste das rochas e
minerais inorgânicos. Conforme apresentado no excerto abaixo
“Augusto Dos Anjos achava que a
vida não valia a pena, porque o corpo humano que ele tanto estudou tão
agudamente dentro do ponto de vista da decadência, era um monte de células
apodrecendo em direção ao nada ou a morte. A morte para Augusto dos Anjos era
somente aceitável se passasse inteiramente do plano do espírito, se nós
tivéssemos somente alma e não tivéssemos corpo. É a vida que apavorava e
amargura Augusto dos Anjos”. (Documentário: Biografias: Augusto dos Anjos.
Acesso em 29/04/21)
Diante da análise poética, perguntamos:
por que é preciso conhecer a poesia de Augusto dos Anjos? Um poeta permeado
de chuvas de contradições, a presença marcante do próprio paradoxo. Respondemos
com o seguinte argumento do PCN (2000):
Diante desse mundo
globalizado, que apresenta múltiplos desafios para o homem, a educação surge
como uma utopia necessária indispensável à humanidade na sua construção da paz,
da liberdade e da justiça social. Deve ser encarada, conforme o Relatório da
Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, da UNESCO, “entre
outros caminhos e para além deles, como uma via que conduz a um desenvolvimento
mais harmonioso, mais autêntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão
social, as incompreensões, as opressões e as guerras”. (p.13)
A sensibilidade precisa de Augusto
dos Anjos nos mostra o que as desigualdades sociais desenvolvem no indivíduo,
assim por meio da educação pode-se compreender melhor esses conflitos
existenciais e por seu intermédio podemos construir olhares de otimismo, de
cidadania e condições sociais melhores. É importante destacar, a
partir das considerações oriundas da Comissão Internacional sobre Educação para
o século XXI, incorporadas nas determinações da Lei nº 9.394/96 que: “a) a
educação deve cumprir um triplo papel: econômico, científico e cultural; b) a
educação deve ser estruturada em quatro alicerces: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser (PCN. 2000, p.15)
Neste sentido, a
poesia de Augusto dos Anjos, inclui-se nos quatro alicerces da educação: aprender
a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver e aprender a ser. O aumento dos
saberes permite compreender o mundo, desenvolver a curiosidade intelectual,
estimular o senso crítico, compreender o real, mediante a aquisição da
autonomia na capacidade de discernir. “Aprender a conhecer garante o aprender a
aprender e constitui o passaporte para a educação permanente, na medida em que
fornece as bases para continuar aprendendo ao longo da vida.” (PCN. p.15)
Além
disso, insere-se no item Linguagens, códigos e suas tecnologias do PCN cuja linguagem
concebe-se como a principal razão de qualquer de produção de sentido. A
compreensão da arbitrariedade da linguagem pode permitir aos alunos a
problematização dos modos de " ver a si mesmo e ao mundo", das
categorias de pensamento, das classificações que são assimiladas bem como, dadas
como indiscutíveis.
A
linguagem da poesia de Augusto dos Anjos cumpre o papel de conhecer o
pensamento e as formas de pensar, as comunicações e as formas de comunicar, a
ação e os modos de agir. Assim, a linguagem a forma de movimentar o homem e ser
movimentada por ele. Neste sentido, a linguagem é “... Produto e produção
cultural, nascida por força das práticas sociais, é humana e tal como o homem,
destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo
e singular, a um só tempo.” (p.05)
A poesia de Augusto dos
Anjos carrega em seu amago uma visão de mundo. Sua importância constitui-se por
inserir no conceito que a linguagem nos transmite,
significados
e significações que vão além dos seus aspectos formais. O estudo apenas do
aspecto formal desconsiderando a inter-relação contextual, semântica e
gramatical própria da natureza e função da linguagem desvincula o aluno do
caráter intersubjetivo, intersubjetivo e social da linguagem. Toda experiência
construída no passado deve ser analisada, em buscas das relações que estabelece
com o presente e o devir. Partilhar o conhecimento socialmente instruído,
aquilo que foi herdado do passado, é apenas o começo do reconhecimento da parte
que cabe a cada um no processo histórico (PCN. 2000, p.6)
Assim,
de acordo com a citação acima que destaca: Toda experiência construída no
passado deve ser analisada, em buscas das relações que estabelece com o
presente e o devir, sucessivamente seu processo histórico, analisaremos agora
dois enfrentamentos pautados em um relato da aluna pós Ensino Médio e outro, na
entrevista da aluna discente do Ensino Médio.
4. ENFRENTAMENTO (1): Relato de uma aluna pós
ensino médio.
Durante o ensino
médio, no período de 2017 não tivemos matéria de literatura, mas a professora
de português por ser formada nessa área de (língua portuguesa e suas
literaturas), tirava um tempo da sua aula para nos ensinar, a gente não tinha
livro e não valia nota nessa disciplina, a gente usava a Internet para
pesquisas e entender um pouco melhor sobre esse assunto. na formação dos
indivíduos. (L.K.F.P. 27/04/21)
O
relato discorre sobre o processo de Ensino de Literatura. O que podemos
constatar que apesar das leis legais, BNCC, PCN e LDB nortearem quanto a
formação e direcionamento no ensino, existem casos em que elas não são cumpridas
em sua completude. A ex-aluna do Ensino Médio enfatiza que havia apenas aulas
esporádicas. E que foram um total de cinco aulas. Podemos compreender que as
normas não se aplicam neste contexto social. Assim, o enfrentamento do Livro
Didático não despertou a criatividade e criticidade da aluna, quanto a
realidade social. Outro ponto foi a inexistência de livros de literatura para o
desenvolvimento dos temas literários. Assim, qual o motivo de não tido estas
aulas? a escola estava ciente disso?
A
literatura tem um papel de extrema importância. Ela é a responsável por
estimular a criatividade, a imaginação e por auxiliar na construção de diversos
conhecimentos. Por isso, é fundamental que o corpo docente das escolas
reconheça a sua relevância para o desenvolvimento dos alunos.
Quanto
às Orientações Curriculares para o Ensino Médio, destacadas pelo governo
federal, em especial o MEC, destaca o fato de que a Literatura é um modo
discursivo entre vários semelhantes aos jornalístico, o científico, o coloquial.
Além disso, o discurso literário ocorre, diferentemente dos outros, pois
ultrapassa as elaborações linguísticas usuais, porque de todos os modos
discursivos é o menos pragmático, o que menos visa a aplicações práticas.
Uma
de suas marcas é sua condição de limites, que outros denominam transgressão,
que garante ao participante do jogo da leitura literária o exercício da
liberdade, e que pode levar a limites extremos as possibilidades da língua:
E nisso reside sua
função maior no quadro do ensino médio: pensada (a literatura) dessa forma, ela
pode ser um grande agenciador do amadurecimento sensível do aluno,
proporcionando-lhe um convívio com um domínio cuja principal característica é o
exercício da liberdade. Daí, favorecer lhe o desenvolvimento de um
comportamento mais crítico e menos preconceituoso diante do mundo. (OSAKABE,
2004)
5. ENFRENTAMENTO (2):
Entrevista – discente do Ensino Médio.
Objetivo
Geral:
O
objetivo principal da atividade é proporcionar aos alunos enfrentamento do
livro didático de Literatura, especialmente dos tópicos que tratam da poesia
brasileira
Livro
Didático: Pré-Modernismo.
In: Sistema Farias de Brito (SFB). 2º ano. Vol. 1. Livro 1. Editora Moderna;
São Paulo: 2018 (p. 100-123).
Entrevistador(a):
Joselane Cavalcante e respostas dadas pela aluna.
Entrevistada:
Aluna do 2º ano do Ensino Médio – Centro de Educação Sesc José Roberto Trados.
Meio eletrônico: WhatsApp. Realizada em: 20 abr. 2021.
1. Quais são os seus livros
paradidáticos deste ano?
F: Não teve leitura deles, nem teve o pedido deles
2. A professora já ministrou o
pré-modernismo?
F: Sim
3. Como foi a apresentação dela:
slides, passou trabalho, prova? F: Slides
4. Quantas aulas ela apresentou a
poesia de Augusto dos Anjos? F: Em 2-3
aulas no máximo
5. Ela usou algum filme? Foto? F: Fotos
6. Ela pediu para vocês apresentarem
alguma poesia?
F: Não
7. Você gostou da poesia de Augusto dos
Anjos?
F: Mais ou menos
O que você percebeu sobre Augusto dos
Anjos?
F: Poeta brasileiro que muitos críticos
preferiram identificar ele com o pré-modernismo, porém também é identificado
como simbolista ou parnasiano.
8. Sobre o pré-Modernismo, o que você
achou interessante e desinteressante F: Interessante: Contexto histórico,
Guerra e revoltas, Lima Barreto. Desinteressante: Características de Euclides
da Cunha
O
enfrentamento por intermédio da entrevista foi um resultado insatisfatório,
visto que a aluna respondeu somente o necessário. Nas perguntas abertas como:
qual sua opinião sobre o modernismo ela apenas citou guerras e revoltas,
destacou apenas nomes como Lima Barreto e Euclides da Cunha, não apontando nenhuma
obra ou fala deles, assim como o contexto histórico.
Segundo
a discente, foram dadas apenas 3 aulas por meio de slides e a prova final.
Neste sentido, percebe-se um certo desinteresse da aluna pela literatura, pois
o próprio SFB é rico em informações que podem ser pesquisadas posteriormente as
aulas. Tais como:
- Indicação de filmes: Tapete vermelho, de Luís Alberto Pereira. Brasil (2006); Guerra de Canudos, de Sergio Rezende, Brasil (1997), Histórias do País, Brasil (1999), Policarpo Quaresma: Herói do Brasil, de Paulo Thiago, Brasil, (1988).
- Músicas: Como tem passado!! De Maricenne Costa. CPC-UMES,1999; Parabelo, de Tom Zé e Zé Miguel Wisnick, Rio de Janeiro: Continental/Warner,1997, O melhor de Sá e Guarabyra: Rio de Janeiro: Indie Records, 2005.
- Indicação de outras leituras: Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, ilustração de Edgar Vasques e roteiro de Flávio Braga. Rio de Janeiro: Desiderata, (2010); Os melhores contos de Lima Barreto, organização e seleção de Francisco de Assis Barbosa. São Paulo: Global, (2001); Monteiro Lobato: um brasileiro sob medida, de Marisa Lajolo. São Paulo: Moderno, (2000); A última quimera, de Ana Miranda. São Paulo: Companhia das Letras, (1995).
- Os sites: Sites: http://www.lobato.com.br; http://wwwnilc.icmc/nilc/literatura/augustodosanjos.htm; http://www.casaeuclidiana.org.br.
Contudo,
não houve por parte de nós integrantes, outras perguntas que conduzissem a
entender como foi a postura da professora, sua didática e metodologia, para
chegar a alguma conclusão. Com apenas uma amostra não podemos considerar o
nível de aprendizados dos demais alunos, apenas um contexto isolado.
A importância do Ensino Médio para a constituição de alunos
leitores-fruidores precisa ser repensada nesta situação, pois precisa-se direcionar
os adolescentes às ações protagonistas, exercerem diversas posições: apreciadores,
artistas, criadores e curadores. O campo artístico-literário de Língua
Portuguesa busca a formação de leitores precisa cumprir seu diálogo com a
segunda competência específica de Linguagens e suas tecnologias para o Ensino
Médio, quais sejam:
Compreender os processos
identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de
linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e
atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na
igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o
diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de
qualquer natureza.
A metodologia da análise documental da BNCC (BRASIL,
2016) tem que ser construída por intermédio da fruição, ou seja, deve construir
o desfrutar das experiências vividas ou apreciadas, e com um significado
para o participante, oriundos de diversas épocas e culturas. Os PCN+ refere-se a questão de fruição
estética, conceito que fundamenta a experiência literária da obra de arte pelo
receptor. Os PCN+ a definem da seguinte maneira:
Desfrute
(fruição): trata-se do aproveitamento satisfatório e prazeroso de obras
literárias, musicais ou artísticas, de modo geral bens culturais construídos
pelas diferentes linguagens, depreendendo delas seu valor estético. Apreender a
representação simbólica das experiências humanas resulta da fruição dos bens
culturais. Podem propiciar aos alunos momentos voluntários para que leiam
coletivamente uma obra literária, assistam a um filme, leiam poemas de sua
autoria – de preferência fora do ambiente de sala de aula: no pátio, na sala de
vídeo, na biblioteca, no parque (PCN+, 2002, p. 67).
Para
desenvolver essa habilidade, é necessário aproximar as obras literárias de
teorias mais aprofundadas. A Literatura no Ensino Médio, portanto, envolve a
análise e compressão de circunstâncias sociais, históricas e ideológicas dos
textos literários de diversos períodos e origens.
Faz-se
necessário o estudo de textos literários para o trabalho no Ensino Médio: a
literatura juvenil, a literatura periférico-marginal, o culto (próximo ao
erudito), o clássico (no que diz respeito ao cânone), o popular, a cultura de
massa, a cultura das mídias e as culturas juvenis. Algo que esteja de acordo
com a realidade do alunado.
A BNCC apresenta algumas ações possíveis após
a leitura de um livro literário: comentar em redes sociais, seguir escritores,
produzir vlogs, escrever fanfics, se tornar booktuber. Essas realizações, além
de presentes no dia a dia das crianças e adolescentes, envolvem um outro. A
partir da interatividade proporcionada pelo mundo virtual, os alunos
desenvolvem critérios de escolha e preferência e compartilham suas impressões e
críticas com outros leitores.
Isso significa que o professor, além de leitor,
deve procurar representar uma figura inteirada nas práticas digitais e
virtuais. A atualização envolve considerar a Literatura que é comentada com
maior frequência nesse contexto: a Literatura contemporânea juvenil. O
professor deve buscar selecionar livros que fogem da perspectiva clássica e
canônica, embora esses sejam de suma importância nos estudos literários. Dessa
maneira, as obras do PNLD Literário envolvem
temáticas mais atualizadas e juvenis.
Interessante
ressaltar que a ideia de utilizar livros de interesse dos alunos é ainda mais
profunda. Essa perspectiva marca a aproximação das práticas de leitura às preferencias
das crianças e adolescentes. Ao estimular a leitura com base na predileção
naturalizada, é possível motivar a leitura dos clássicos mais
facilmente.
Outro
ponto de destaque na LDB (1996) é o item III - aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico. o Inciso III, destaca que “a escola deverá
ter como meta o desenvolvimento do humanismo, da autonomia intelectual e do
pensamento crítico, não importando se o educando continuará os estudos ou
ingressará no mundo do trabalho.” (p. 17)
Nesse
sentido, consideramos pertinente citar as palavras de Antônio Cândido sobre a
Literatura como fator indispensável de humanização:
Entendo aqui por
humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa
disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de
penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade
do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a
quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos
para a natureza, a sociedade, o semelhante (CÂNDIDO, 1995, p. 249).
O
aluno deve saber, portanto, identificar obras com determinados períodos,
percebendo-as como típicas de seu tempo ou antecipatórias de novas tendências.
Para isso, é preciso exercitar o reconhecimento de elementos que identificam e
singularizam tais obras, vários deles relacionados a conceitos já destacados
anteriormente. (PCN+, 2002, p. 65 – grifo nosso).
Percebe-se
que a Literatura assim focalizada – o que se verifica sobretudo em grande parte
dos manuais didáticos do ensino médio – prescinde da experiência plena de
leitura do texto literário pelo leitor. No lugar dessa experiência estética,
ocorre a fragmentação de trechos de obras ou poemas isolados, considerados
exemplares de determinados estilos, prática que se revela um dos mais graves
problemas ainda hoje recorrentes.
Esses
impasses podem resumir-se a três tendências predominantes, que se confirmam nas
práticas escolares de leitura da Literatura como deslocamentos ou fuga do
contato direto do leitor com o texto literário: a) substituição da Literatura difícil por uma
Literatura considerada mais digerível; b) simplificação da aprendizagem
literária a um conjunto de informações externas às obras e aos textos; c)
substituição dos textos originais por simulacros, tais como paráfrases ou
resumos (OSAKABE; FREDERICO, 2004, p. 62-63)
6. Conclusão
Nossas
considerações quanto ao enfrentamento do Livro Didático na questão de poesia
nos levaram a observar que Augusto dos Anjos obteve uma fama póstuma. Todavia,
a forma como é retratada na escola ainda não alcançou o objetivo desejado que é
o despertar no aluno a fruição pela literatura, o prazer em imaginar e
construir um pensamento sistêmico.
Outro
apontamento consiste em identificar neste estudo que o ensino literário envolve
a educação socioemocional, uma vez que fortalece sentimentos como a empatia e a
solidariedade, além de provocar reinvenções e questionamentos sobre o eu e o
mundo. O texto de Literatura, poesia, propicia ações difíceis que não são
facilmente encontradas em outros gêneros: a incitação às emoções, sentimentos,
ideias, bem como segundo a BNCC e o PCN, o despertar da criticidade e cidadania.
Portanto, a Literatura, assim como a Arte e a informação, constitui
um Direito Humano.
Assim,
a leitura do texto literário provoca reações, estímulos, experiências múltiplas
e variadas, dependendo da história de cada indivíduo. Não só a leitura resulta
em interações diferentes para cada um, como cada um poderá interagir de modo
diferente com a obra em outro momento de leitura do mesmo texto. É da troca de
impressões, de comentários partilhados, que vamos descobrindo muitos outros
elementos da obra; às vezes, nesse diálogo mudamos de opinião, descobrimos uma
outra dimensão que não havia ficado visível num primeiro momento.
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